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ALIMENTAÇÃO DOS IMIGRANTES

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Mensagem por Admin Qui maio 22, 2014 12:41 pm

ricardo cassettari escreveu:Confira o que eles comiam quando moravam e trabalhavam nas fazendas e as dificuldades de adaptação ao paladar brasileiro
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Parte da casa montada no Museu Histórico da Imigração Japonesa em São Paulo, identificando a moradia dos imigrantes

Sushi, sukiyaki, missô, ozooni, sashimi, tofu. É difícil imaginar a vida dos nikkeis sem estes alimentos. Mas, em 1908, quando os primeiros imigrantes desembarcaram no porto de Santos, não existia a variedade de alimentos japoneses que se tem hoje em dia, muito menos era possível encontrá-los em qualquer supermercado ou mercearia especializada.

Assim, logo que chegaram ao Brasil, eles tiveram, entre outras coisas, que aprender a cozinhar e a saborear a comida brasileira. Mas, ao contrário do que se pensa, eles não se esforçavam muito para assimilar os hábitos alimentares daqui e só escolhiam alimentos que atendessem ao seu paladar.

Quase tudo o que comiam provinha do armazém da própria fazenda, mas os produtos eram muito caros em relação ao que ganhavam. Por isso, chegavam a passar fome e eram obrigados a comer somente o necessário, uma vez que também não havia comida suficiente para toda a família. Como conseqüência da má alimentação, muitos japoneses ficaram subnutridos e doentes e diversas crianças morreram.

Mesmo diante das dificuldades, usavam vários artifícios culinários a fim de se alimentar. “(...) Em geral a mesa dos imigrantes japoneses nas fazendas era servida com pratos à moda japonesa, feitos com ingredientes brasileiros, o que não se alterou até hoje. (...)”, conta o livro O Imigrante Japonês – Histórias de sua vida no Brasil, escrito por Tomoo Handa. “(...) Para o japonês, acostumado a dar gosto à comida com o shoyu, aquela era uma cozinha que não o satisfazia. (...)”, relata a obra.

Na merenda matinal, não havia pães, frutas e leite à mesa. Faziam bolinhos com a mistura de pó de café, farinha de trigo e fubá e engoliam com um pouco de café, bebida que os japoneses levaram meses para apreciar o gosto e cujos grãos eram dados pelas fazendas.

E, por falar em bebidas, quando não tomavam água, faziam chás com plantas encontradas nas próprias fazendas e, ora ou outra, experimentavam um pouco de vinho, que era dado de presente pelos italianos como uma forma de retribuir a ajuda japonesa.

A base da alimentação japonesa

O único consolo foi encontrar por aqui o arroz. Mas este era consumido aos poucos, como uma forma de economizar, já que se tratava de um produto caro.

Fumie Nemoto, 82, lembra bem desse período em que a comida era excassa. Vinda da província de Ibaraki, no Japão, ela chegou ao Brasil em 1932, aos 9 anos, junto dos pais e de mais cinco irmãos, e foi viver na região mogiana, numa fazenda de cana-de-açúcar.

Como os pais saíam cedo para trabalhar, Fumie era quem ficava cuidando dos irmãos. Antes de sair de casa, a mãe deixava preparado alguns oniguiris para as crianças comerem no almoço e, com o caldinho do arroz (omoiyu), a garotinha fazia a mamadeira para o irmão mais novo, de apenas 3 meses, uma vez que o leite também era um produto muito caro para o padrão de vida dos imigrantes. “Doce, nem pensar. Não existia. Tínhamos que comer somente aquilo que tinha, mesmo que desse fome”, lembra.

Assim como a família de Fumie, os outros imigrantes bem que tentaram preparar o arroz à brasileira, temperado e cozido com óleo. Mas, além de não saberem cozinhá-lo corretamente, acharam-no gorduroso e empapado demais e passaram a fazê-lo como no Japão, sem tempero algum.

Aliás, todos os pratos que faziam eram sempre temperados após o preparo, ao contrário dos brasileiros, e, na maioria das vezes, apenas com um pouco de sal ou açúcar.

Inventando okazu

Na época, não existiam muitas misturas (okazu). Era necessário optar apenas por uma que, quase sempre, era mandioca, batata-doce, quiabo ou berinjela. Mas aprenderam a preparar canjica, que também era consumida com o arroz. E até frutas como banana e manga eram saboreadas com o gohan.

Estavam sempre criando um tsukemono diferente. Mas o mais comum entre os primeiros imigrantes era o de mamão.
Graças a outros imigrantes japoneses, que trouxeram na bagagem algumas sementes de soja, era possível fazer um missô caseiro.
Porém, quando não havia missô – já que não era possível comprá-lo nos armazéns da época –, os japoneses improvisavam sopas com ingredientes encontrados no mato – como picão, caruru e maxixe –, ou faziam bolinhas de farinha de trigo temperadas com sal, parecidas com aquelas que comiam no café-da-manhã. Com a farinha, ainda faziam o lamen e o udon, pratos que os japoneses também não dispensavam.

Diversificando

Os imigrantes descobriram que podiam derreter a banha de porco e transformá-la em óleo, que era utilizado como tempero de muitos alimentos

E foi com a ajuda de imigrantes de outras nacionalidades que os japoneses puderam aprender a preparar outros tipos de alimentos. Dos italianos, conheceram os pães, que eram feitos somente nas tardes de sábado. Dos negros, aprenderam a comer a carne de porco e, com muito esforço, a matar esse animal. Porém, não acostumados, os japoneses ficavam enjoados com a lembrança das cenas da matança do porco e de sua limpeza, não conseguindo, muitas vezes, comer a carne.
Ficavam surpreendidos com a quantidade de gordura encontrada nas banhas dos porcos, mas aprenderam que podiam derretê-la e transformá-la em óleo, que era utilizado como tempero de muitos alimentos. Como não existia geladeira, conservavam a carne com missô caseiro. Também comiam carne-seca e bacalhau, mas achavam estes alimentos muito salgados e enjoativos.
Apenas o feijão foi assimilado pelos japoneses, embora muitos o cozinhassem com açúcar e misturassem a ele – no cozimento – alguns legumes encontrados nos matagais.

Chegada dos produtos japoneses

Depois da Segunda Guerra Mundial, muitos produtos japoneses já podiam ser encontrados no Brasil, mas eram caros. Assim, eles continuavam “inventando” pratos diferentes para economizar.
Descascavam, por exemplo, a melancia e cozinhavam a parte mais verde com shoyu ou missô e a comiam com arroz.
O arroz, aliás, passou a ser um alimento bastante popular, não só para os brasileiros mas aos outros imigrantes. Assim, podiam comê-lo com mais freqüência e até criar outros pratos, como o ochazuke (arroz regado com chá verde).
A família de Hisae Sagara, 76, por exemplo, chegou ao Brasil há 49 anos e criou um prato à base de missô que era servido para comer junto do arroz como uma mistura (confira a receita abaixo). Mesmo 47 anos após o preparo dessa mistura, Hisae conserva até hoje esse alimento e o usa para passar na torrada ou para temperar comidas.
Ela conta que foi uma época muito difícil para se adaptar à comida brasileira. “Comíamos, por exemplo, o butagussa, grama com a qual os porcos se alimentavam e que soltava muito o intestino”, lembra. “Além disso, trouxemos do Japão um pote de umeboshi e glutamato monossódico, mas só durou seis meses, porque era comum naquela época emprestar comida para outros imigrantes”.
As lembranças dos tempos difíceis nas fazendas continuam na memória de todos os imigrantes. Mas os tempos mudaram e, agora, são os brasileiros que aprendem a preparar alimentos da culinária japonesa, graças à ascensão da gastronomia desse povo que conquistou o paladar de todo o País a partir da década de 80.
Curiosidades

- Para fazer o shoyu caseiro, os imigrantes queimavam açúcar mascavo e cozinhavam-no com o caldinho que sobrava quando faziam o missô caseiro.

- Como não existia geladeira, os imigrantes conservavam os alimentos deixando-os alguns dias no missô.

- Para fazer o tsukemono de mamão, os japoneses deixavam a fruta no sol por um tempo e, em seguida, conservavam-na em missô caseiro.

- A canjica era um dos alimentos bastante saboreados pelos imigrantes japoneses. Eles deixavam o milho branco mergulhado na água durante a noite e depois o moíam no pilão. Em seguida, peneiravam a mistura e retiravam as cascas para, enfim, cozinhá-lo.

- O tsukemono – picles ou conservas dos mais variados ingredientes feitos, principalmente, à base de sal, missô e nuka (farelo de arroz) – eram feitos pelos imigrantes com fubá no lugar do farelo de arroz.
(AliançaCultBrJp)
Comentário: Eu como descendente, me sensibilizo por toda a dificuldade por que passaram nossos imigrantes, e percebo o quão obstinados foram nossos antepassados para enfrentarem com suas familias a dura labuta que lhes era imposta.

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